Laurence Olivier
Anotações para um debate sobre o filme "Hamlet"
A encruzilhada hamletiana pousa sobre uma frase de Freud: "a punição espera pelo desobediente". A tragédia de Hamlet gira em torno da morte do pai e da culpa que, como diz Freud, é uma variante topográfica da angústia.
O que o Outro quer do meu eu? Esta parece ser a impossível verdade a ser encontrada pelo jovem Hamlet que em sua indecisão de agir estabelece para si mesmo uma culpa transgressora. E os transgressores são punidos com o remorso. "Remorso" em latim remorsus, o particípio passado de remordere, significa tornar a morder. Lugar comum para o caráter anal-sádico tão evidente na neurose obsessiva. É uma culpa que morde o neurótico não lhe dando coragem para a ação.
Aqui a neurose trabalha para colocar a morte como um significante mestre. A pulsão de morte, o gozo mortífero é o drama que se delineia nesta tragédia.
Por que Hamlet, ao contrário de Édipo, não age? Por que ele procrastina em sua decisão de vingar a morte do pai? Há um imperialismo do gozo do Outro sobre o sujeito. Este gozo do Outro é um gozo fundamentalista que não se submete à lei. A castração, a verdade e a morte é o que Hamlet tenta evitar.
O luto não nos dá nenhum saber sobre a morte. Ao contrário, ao tentar elaborar uma perda, ele no coloca nos limites da vida. Há um não-todo, há um, "não se pode tudo" diante do luto. A tentativa de se simbolizar uma perda é a confrontação de que a vida é falha e ela rateia justamente a partir da transmissão de um saber do pai para o filho. É neste sentido que para hamlet seu pai já estava morto e ele não sabia. Ao saber na confrontação com o espectro de seu pai, ele se assusta com este saber sem defesa. Por isso ele procrastina o encontro com a verdade. Em sua genealogia já encontramos a morte simbólica do pai: o pai está morto desde sempre.
Há um real da perda do objeto e diante disto o sujeito precisa elaborar uma falta (simbólica). Fazer passar o real através do simbólico é, de alguma forma, poder realizar o luto.
Se Édipo claudica, Hamlet hesita. Assim a 'impossibilidade' é um outro nome para o filho do rei da Dinamarca.
Neste sentido, se o desejo é impossível, o luto também o é. E se não há saída através do luto, abre-se um espaço para a depressão. Aqui, tempo e espaço são decisivos na clínica quotidiana. Afunila-se os espaços e reduz-se o tempo de existir. É a dúvida hamletiana sobre ser ou não ser.
O luto é uma tentativa de resposta simbólica ao real de uma perda. Há uma espécie de forclusão no luto porque o retorno do objeto morto é impossível. O trabalho do luto consiste, pois, a partir desta perda no real, por-se a trabalho para conservar ao menos a imagem, os traços significantes da história e tentar anular a impossibilidade de dizer a morte.
Diante do luto há algumas consequências: desestabilização do imaginário, quebra do simbólico e irrupção do real. Além de um empobrecimento do eu, perda do sentimento de auto-estima e desinteresse pela vida.
O tempo do luto é este tempo que oscila entre a perda do objeto e sua elaboração simbólica. Neste tempo surge a pergunta para a qual o sujeito luta para encontrar a resposta: o que sou eu para o Outro? A angústia é o medo que a falta, falte. E, se ainda há chance de se fazer esta pergunta, é porque o sujeito ainda não está totalmente paralisado diante da angústia de castração.
Falta=simbólica Perda=real
O luto não seria uma retomada daquilo que Freud havia observado nas identificações? Aquela mítica ao pai da incorporação, que nos reenvia à metáfora paterna e ao Nome-do-Pai? Assim, todo luto verdadeiro não seria um eco desse luto mítico, onde a lei se institui através do crime do pai da horda?
Na histeria, os sintomas a levam à denegação de seu desejo pelo pai morto e cujo luto está por ser feito.
Na neurose obsessiva, o que faz retorno no luto é a questão do gozo do Outro: pela anulação e através do isolamento, o obsessivo se coloca a tentar apagar os traços da morte.
HAMLET: o rei da Dinamarca
HAMLET: o príncipe e filho do rei.
Hamlet se encontra com seu pai morto
Hamlet se encontra com seu nome morto. (Assim como Van Gogh, que teve um irmão natimorto com seu mesmo nome, encontrava-se consigo mesmo na lápide do cemitério ao lado da igreja que frequentava quando criança. Lá estava enterrado Vincent Van Gogh). É com esta identificação ao que já estava morto em seu nome que Hamlet mortifica seu desejo. A tragédia de seu desejo não tem outro fim que não a morte.
A análise propõe uma outra saída que não a trágica. A análise aposta numa ética do desejo para além do pai, mas sem prescindir dele.
Temos uma tendência do ponto de vista clínico a opor Hamlet a Édipo. Hamlet não age porque sabe e Édipo por não saber age em busca de sua verdade. Ele a encontra e se cega. Hamlet se cega porque ele vê demais.
Mas do ponto de vista ético, prefiro contrapor Hamlet a Antígona. Ali onde Hamlet procrastina, Antígona segue em seu desejo. Se Hamlet tenta evitar o conflito, Antígona a ele se expõe sabendo que a colisão é inevitável, assim como a morte.
Hamlet tenta unificar a lei dos homens (o Estado, a mediação, a racionalidade, o bom senso, a argumentação) com a lei dos deuses (o familiar).
Antígona sabe que esta conciliação é impossível. Por isso ela vai só em sua hora, enquanto Hamlet está mortificado na hora do Outro.
Hamlet é o traço infantil de uma 'ironia' que segundo Lacan, é uma tentativa de colocação de uma pergunta ao Outro. Assim diz Hamlet:"Contudo eu, zé-ninguém feito de lama, pobre idiota sonhador, impotente para a minha causa própria, nada posso dizer, não, nem por um Rei a quem roubaram os bens e a própria vida numa pavorosa traição. Serei eu um covarde? Quem me chama vilão? Quem me parte a cabeça?"
Seu 'pensamento ruidoso', nas palavras de Freud, é o mote de sua indecisão, a demanda para que o Outro responda e, ao mesmo tempo, a tragédia de seu desejo.
Bem legal a sua análise.
ResponderExcluirNão é por acaso que Hamlet termina com aquele festival de mortes.
bj
Boa noite, meu coração!
ResponderExcluirVim matar as saudades e ver as novidades por aqui.
"Meu amigo virtual
Meu amigo virtual é diferente...
Ele não olha nos meus olhos,
Ele vê meu coração...
Meu amigo virtual é diferente...
Ele não percebe as minhas lágrimas
Percebe o momento de me confortar
Meu amigo virtual é diferente...
Ele não sorrí, ele me faz sorrir...
Meu amigo virtual...
Você não sabe...
Mas te procuro todas as noites .
Você não sabe...
Mas fico feliz quando você vem...
Olho para você, na expectativa de um sorriso...
Te espero assim como o sol espera pelo amanhecer...
Te espero assim como a Lua espera pela noite...
Certa que virá!
Não me importa se vens através de telas...
O que importa, é que venhas...
Não sei porque te escolhí como amigo...
Suas letrinhas são iguais às de todos os outros,
Apenas suas palavras são firmes...
Você consegue me fazer acreditar.
Talvez você não saiba, mas quando me falas...
Quando brincas comigo..
Quando me escutas...
Quando me amas...
Exerce a nobre tarefa de um amigo REAL.
Assim... Cativa-me...
Escuto teu sorriso através do sons do teclado.
Ouço teu coração através do meu coração,
Sinto tua alegria através da minha alegria...
Nunca deixes de vir...
Só conhecemos a importância dos verdadeiros amigos,
Quando começamos a perceber sua ausência,
Quando chamamos por todos,
E somente ele vem...
(Fátima M. de Mendonça)
Que a tua semana seja excelente!!!
Bjkas, muitas!
Sônia Silvino's Blogs
Vários temas & um só coração!
Criei um blog para chineliar essa tranqueira retrógrada chamada psicanálise.
ResponderExcluirwww.psicanalisecontemporanea.blogspot.com.br
Gostei!
ResponderExcluirGente acima temos uma doidinha de pedra..... Imagine tão fixada na tela, mas todos somos doidinhos, importando mesmo êh estar feliz, mas se posso contribuir e que seja para quem assim desejar, aconselho encontrar algo mais real que possa apalpar
ResponderExcluirFui....
Euzinha