Os transexuais não se enquadram nesta categoria. Neles, houve uma ruptura da realidade, tal como na psicose e, portanto, repudiam o que são e querem se transformar no Outro, no caso, em Outra. Na literatura não há muitos casos de mulheres que que querem se transformar em homens. A maioria dos casos são homens que fazem uma ablação peniana e se submetem a uma Cirurgia de Redesignação Sexual, como é designada.
Nestes casos que podemos considerar como uma psicose, a ablação (corte) permite que o sujeito se estabilize diante da realidade e, portanto, não delire. Se na neurose o sujeito é um sujeito da dúvida, na psicose, a certeza é o que dá o tom. Não há dúvida sobre o que ele é. Não há dúvida, inclusive as existenciais. O transexual não aceita ser quem é e quer ser outro. Não há angústia neste ponto. Ele é não-homem e não-mulher. Esta terceira categoria o coloca numa outra cena desabitada pela lógica fálica que rege os não-psicóticos.
Uma fantasia recorrente aos homens é ter relações sexuais com duas mulheres ou com um homem e outra mulher, ou seja, a antiga triangulação descrita por Sófocles e que ajudou Freud a demonstrar as questões edípicas. Pois bem, existem muitos homens que procuram um travesti (principalmente se ainda não fizeram a ablação peniana) com o intuito de realizarem esta fantasia edípica. Para o neurótico, são dois num só o que excita o traço de perversão neles existente. São também raros os casos de mulheres que procuram um travesti para transar.
Quero lembrar que não se trata apenas de retirar o pênis, mas sim de colocar em seu lugar uma vagina (vaginoplastia).
No série "Amor em 4 atos", uma mulher (a atriz Alice Assef) faz o papel de um travesti (quase não se usa no feminino: uma travesti) e encantou a fantasia de muitos. Lembro que muito recentemente na teledramaturgia brasileira não era permitido aparecer nem homossexuais. Este era um assunto tabu para a tv. Hoje, quem aparece para entrar de vez nas cenas novelescas é o travesti. Ainda sem as grandes questões sobre a perversão, mas é oportuna sua saída por detrás dos bastidores para a boca de cena para que a discussão ganhe uma dimensão que nos conduz a (re)pensar estas questões no mundo atual.
Se, psiquicamente, seu lugar é a radicalização do Outro sexo, na televisão pretende-se amenizar/suavizar esta ruptura, 'travestindo-o' com uma dose de androginia (e um olhar feminino) que é outra coisa radicalmente diferente.
Penso também que há uma certa posição melancólica (depressão profunda), uma tristeza constante rivalizada com uma alegria caricata, que compõe o quadro de ruptura da realidade destes sujeitos.
Mas, pergunto: a quem ama o travesti? O que é o amor nesta conjunção não-homem, não-mulher?
Carlos Eduardo Leal
Psicanalista e ecritor
Olá Carlos!
ResponderExcluirDe todos os seus blogs gostei deste.
Interessante sua visão/ estudos, principalmente, no que diz respeito a psicose e a fantasia edípica. Já ouvi falar dos exemplos dados, mas com este olhar analítico, pude entender com profundidade o porquê dos atos.
No texto concordo plenamente com duas passagens: “... não digam que "curam" homossexuais...” e “... Outro sexo, na televisão pretende-se amenizar/suavizar esta ruptura...”.
No mais, sinto muito pela demora para vir lhe visitar. O meu tempo está cada vez mais curto. Enfim, obrigada por seguir o BRAILLE DA ALMA. Seja bem-vindo! Também lhe seguirei. Felicidades.
Juliana Carla
brailledalma.blogspot.com