quarta-feira, 13 de julho de 2011

Enxurrada de maldade: tragédia sobre a tragédia da Região Serrana


 

A maldade humana parece não conhecer os mais profundos abismos. A ganância mata por outras formas. Mata de maneira mais espúria porque esta poderia ser evitada. A enxurrada de água, lama, paus e pedras que desabou em janeiro sobre a Região Serrana foi por todos os motivos já levantados pela imprensa, inevitáveis. Foi, a dor é profunda e, para quem me acompanha por aqui ou no Facebook, sabe que lá estou há seis meses ajudando como posso. Ainda existem famílias partidas por mortes que ceifaram esperanças. Ainda existem crianças com frio: de agasalho, comida, carinho, afeto, atenção e solidariedade. De uma forma ou de outra todas que tenho conhecimento estão em escolas. Realfabetizam-se para a vida. Reaprendem outras formas de subsistências agarradas que ficaram por liames que fazem o sol aparecer por entre nuvens ameaçadoras. 
Mas o que dizer da nuvem da maldade humana que troveja sobre a cabeça dos desvalidos? O que dizer do fogo inquieto que consome verbas destinadas aos que perderam a vida dentro da vida? 
O gozo absolutista do Outro se envereda pelas entranhas do poder e arranca de seu dicionário a palavra humanidade. Tudo o que resta chama-se devastação, tal como algumas mães fazem com suas filhas, como dizia Lacan. O gozo não serve para nada. Só nos faz sofrer. Pura pulsão de morte. 
Fala-se dos sujeitos como dejeto e é como lixo, escória, resto, rebotalho, que são tratados.
Tudo então se transforma, nas palavras de Hannah Arendt, numa "Banalidade do Mal". 
Leio (ainda estupefato? Por que na minha crença ainda me escandalizo com os escândalos?) na imprensa que as prefeituras de Nova Friburgo e Teresópolis estão sofrendo uma devassa da Polícia Federal e do Ministério Público pelas fraudes nas licitações para obras "emergenciais" da tragédia da Região Serrana. Obras que não saíram do papel enquanto as crianças se abrigam do frio com papel, "papelão". 
"A forma extrema de poder", ensina Arendt, "é todos contra um; a forma extrema de violência é um contra todos".
A violência impetrada por aqueles que deveriam democraticamente nos resguardar dos assaltantes de vida, parecem fazer liquidar esperanças. 
O povo tem fome, dizia Betinho. Constato esta dureza da vida in loco há seis meses, embora saiba que 30 milhões de pessoas vivem abaixo da linha de pobreza no Brasil, isto é, com menos de um dólar por dia. O povo tem fome de justiça. Até quando seremos chamados de preguiçosos ou benevolentes (fechando covardemente os olhos) desde que "a desgraça não chegue perto de mim"?
E você? Você tem fome de quê?   

Um comentário:

  1. Olá, vim aqui agradecer sua
    visitinha no meu blog, passei um bom tempo
    sem entrar, me desculpa a demora!
    Obrigada pelo carinho, fico feliz pelas palavras!
    Beijos e fique com Deus*

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